Estamos no período mais importante para o povo gaúcho, que, ao contrário da Semana da Pátria, é celebrado com muito amor e orgulho – característica particular do gaúcho, comparado ao resto do Brasil. Aliás, somos conhecidos nas demais regiões do País por esse patriotismo próprio, seja cantando o Hino Rio-grandense, seja carregando o chimarrão para todo o lado, seja mantendo alguns costumes passados entre gerações, ou seja, Nossas Raízes (lema desta edição do evento).
Nós, como luteranos, aproveitamos esse orgulho para compartilhar e envolver pessoas nesse período, podendo disseminar a palavra de Deus. Neste segundo ano de celebração da Semana Farroupilha, a Congregação São Lucas deu passos mais largos. Conseguimos construir um galpão e participamos da abertura dos eventos na cidade, levando uma centelha da Chama Crioula para nossa comunidade. Para dar mais realidade ao nosso espaço, hospedamos até cavalo e ovelha. Tudo para não fugir aos costumes do nosso povo, sem esquecer do nosso Criador. É um momento a mais de nos reunir como família cristã.
Voltando aos costumes passados entre gerações, é bom lembrar que nós, luteranos, temos nossa participação também na Revolução Farroupilha (1835-1845). Friedrich Christian Klingelhöffer, o terceiro pastor a desembarcar no Rio Grande do Sul, instalando-se em São Leopoldo em 1826, morreu em combate em 1838, pelas tropas imperiais. Em 2005, a comunidade luterana de Campo Bom inaugurou um memorial ao Pastor Farrapo, como ficou conhecido. Klingelhöffer ingressou na guerra na tentativa de obter junto ao governo brasileiro o cumprimento das promessas que lhe haviam sido feitas antes de vir para o Brasil. Uma das promessas dos imigrantes era de plena liberdade religiosa, mas a Constituição outorgada por D. Pedro I em 1824 não permitia outras religiões além da católica-romana. Assim, os luteranos não poderiam ter uma igreja típica (com torre e sino) nem auxílio financeiro do governo. A liberdade de culto só foi aceita e legalizada após a proclamação da República (1889), tornando-se norma constitucional em 1891.
Johann Georg Ehlers, o primeiro pastor a chegar em São Leopoldo, em 1824, também foi refém da revolução. Como a colônia alemã estava dividida, Ehlers foi acusado de ser simpatizante do movimento revolucionário e ficou sete meses preso. Após a guerra, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde faleceu em 1850.
Hoje, sem guerras, podemos voltar a participar desse momento marcante de nossa história. E, quem sabe, no futuro, seremos lembrados por ter reacendido a chama do movimento religioso-tradicionalista.
Uma semana abençoada a todos!
Luana Lemke Guterres